Vamos quebrar paradigmas?


Convicção e perplexidade. Como dois termos tão contraditórios podem tornar-se tão próximos? Difícil responder. Entretanto, esses foram meus sentimentos após a palestra de Deca Soares, Coordenadora de Produção da Zero Hora. Uma pena que a sala 307 da Unipampa comporte apenas 60 ou 70 pessoas. O que se viu e ouviu ali foi muito mais do que uma explanação sobre jornalismo, comunicação, pauta, lead e afins. Foi muito mais do que uma palestra. Para alguns, um divisor de águas no tortuoso caminho da graduação. Para outros tantos, o momento de jogar a toalha. Hora de seguir o exemplo do caso contado por Deca e mudar o rumo da história. Hora de dizer adeus, ao menos para o jornalismo.

Essa quarta-feira, fantasiada de segunda, com uma atmosfera de ressaca, não veio apenas para cumprir tabela, como se diz no futebol. Foi um dia de ruptura, ao menos para mim. Quebrei alguns paradigmas, que, até o momento, aparentavam um hermetismo inconveniente, mas que, no fundo, tinha algum embasamento. Quando Deca adentrou ao recinto não precisou apresentar-se para que fosse reconhecida como Deca. Os olhares voltaram-se para ela. Vi um sorriso que destroçou qualquer pensamento maniqueísta, em relação ao chefe e ao empregado. Vi uma carregadora de fardos, e de fardos pesados, mas que cumpria sua trajetória com um andar seguro e elegante. Calçava saltos altos. Vi a convicção, pela primeira vez naquela tarde.

Porém, impressionante mesmo foi o início de sua fala. Contrariando a expectativa de um diálogo commodity, politicamente correto, Deca foi a fundo. A rotina, os desafios da profissão, as dificuldades do processo de convergência, a realidade, nua e crua. Commodity, por ali? Nem pensar. Aliás, sair deste viés de “mais do mesmo, por favor” mostrou ser uma preocupação, uma barreira a ser transposta. E como driblar este percalço? Deca responde: “com renovação”. Neste momento, percebi milhares de olhos brilhando. Em pensamento, planos eram traçados, portas eram abertas, possibilidades eram arquitetadas. A dúvida ficava por conta de quais olhos brilhavam mais. Os de quem ouvia, ou os de quem falava?

Quando Deca fala da Zero, ela é coração. A incondicionalidade do amor assemelha-se ao amor materno, contudo, é mais vibrante, tem mais pimenta. É paixão. E para integrar esta equipe, talvez, um anúncio perfeito seja: “Procura-se profissional vibrante, com brilho nos olhos e frio na barriga. Procura-se alguém com uma pitada de Deca”. Após a ressalva da importância na qualidade textual, luxo, hoje em dia, a explanação ia encaminhando-se para seu o fim. As dúvidas eram muitas, e de muitos. Aos poucos eram sancionadas. O relógio como sempre parece ter acelerado o tempo. É assim quando nos divertimos. Veio o final de palestra. Com ele, a oportunidade de uma conversa com Deca. Menos profissional que uma entrevista, mais sisuda do que um bate-papo. Foi dessa forma.

Achei que Deca já havia quebrado paradigmas suficientes naquela tarde. No entanto, voltou a surpreender-me. A experiente Jornalista, hoje, Coordenadora, não se considera realizada. Com humildade, diz que ainda engatinha em diversos aspectos. Diz ter sede de conhecer o novo, e que quer inovar. Pode soar pretensioso, porém, neste aspecto, enxergo aquela pitada de Deca em mim. Não sei o porquê. Mas, identifiquei-me. Era a convicção, mais uma vez, presente. Pouco mais de meia hora de conversa e Deca mantinha um olhar fixo, compenetrado, um tanto quanto intimidador. Quinze anos de Zero Hora. A disposição de um “foca”. A disponibilidade de um acadêmico. Quem foi à sala 307 da Unipampa – Campus São Borja, nesta quarta-feira, 2 de maio, não ouviu só uma aula de como fazer um jornal. Indico esta palestra para engenheiros, lixeiros, advogados, médicos, professores, pedreiros, enfim, para todos. Deca Soares não deu uma lição apenas sobre jornalismo. Mas deixou, sim, evidente o quão fundamental é amar o que se faz. Saí perplexo.

3 comentários:

Brunno Porto disse...

Perfeito, Sem palavras.

Orgulho de um dia falar que tive você como amigo de turma.

Luthiana Soares disse...

Ótimo texto!

Thaís Leobeth disse...

Muuito boom!

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