Hipocrisia: paixão nacional

Uns apontam o futebol. Alguns apontam as mulheres, os carros. Mas, em minha humilde, sincera e, talvez, desqualificada opinião, brasileiro gosta mesmo é de ser hipócrita. Brasil, um país de todos, para todos. O país da miscigenação, que acolhe de braços abertos quem quer que seja. O país da alegria, o país do carnaval. Será mesmo? Vamos analisar alguns fatos?
Miscigenação. Nunca foi orgulho para nós, ou, pelo menos, nunca aparentou ser. Nossa terra era dos índios. Os portugueses chegaram e os escravizaram. Quando a mão de obra indígena já não era mais suficiente, trouxemos negros. Os negros foram escravizados. Abolimos a escravidão. Trouxemos europeus, muitos refugiados. Viraram empregados de grandes fazendeiros, muitas vezes foram escravizados. Acho que não os acolhemos de braços abertos... Temos preconceito sim. Vamos admitir. Se hoje não escravizamos, de certa forma, segregamos. Adotamos medidas que são a própria discriminação, como as cotas de universidade, por exemplo.
E a nossa cultura? Ah, Brasil, quanta diversidade cultural tu tens. Será? Nossa cultura é rica. Os diversos povos que aqui se instauraram difundiram seus costumes, crenças, sua arte. O problema é que não cultivamos esse legado, com certas exceções, como o da cultura gaúcha, talvez. Cultivamos sim uma “fábrica de mulheres fruta” e intérpretes de canções com meia dúzia de palavras repetidas que, de acordo com a revista Época, “traduz os valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”. Ficou feliz de ser incluso nessa? Eu não. Nada contra o cantor, ele é o menos culpado da história. Somente canta e, certamente, sabe que a música é ruim. Mas o povo compra. Fazer o quê? De resto, apenas um dilúvio de estrangeirismos que a mídia classifica como tendências e nos joga goela abaixo, como um xarope amargo. Mas o povo compra, fazer o quê?
Educação? Está crescendo. Em qualidade? Não, em número de “estudantes” inscritos. É isso que consta nos relatórios da ONU, logo, é o que “importa”. Infelizmente, o governo é um reflexo da sociedade. Talvez seja por isso que mesmo com a sucessão de governantes a cada eleição a situação continua estagnada, quando não piora. O famoso “jeitinho brasileiro” nem sempre é benéfico, por muitas vezes, acaba conosco, nos impede de evoluir, sanar nossos problemas. No Brasil, a tudo se dá um jeito e, na maioria das vezes, esse jeito não é lícito ou o mais adequado a situação.
Perdão despejar minhas mágoas e revoltas em cima de você, caro leitor. Sou só um brasileiro, inconformado, relativamente honesto, que cumpre com suas obrigações e não gosta dos que não as cumprem. Entretanto prefiro os que não cumprem, mas assumem, aos que cometem ambos os erros. Quero mudar o mundo? Sim, sem dúvida. No auge dos 20 anos o ímpeto idealista toma conta do meu ser. Conseguirei? Muito provável que não. Contudo, uma coisa é certa: não sentarei em frente ao sofá e assistirei Big Brother esta noite. Não serei mais um.

O tudo e o nada

A minha vida sempre foi assim. Uma linha muito tênue separou o tudo e o nada. Nunca fui acostumado com meio termo, com meias palavras ou com um pouco de felicidade. Sou insistente, cabeça dura, chato e teimoso. Apesar de fatos controversos, não me contento com pouco, quiçá acostumo-me. Aliás, acostumado, na realidade, já fui. Apenas não me dava conta do fato.
Mas, como disse no começo, meu dilema sempre foi o tudo e o nada. O céu e o inferno eram vizinhos, e daqueles de abrir a janela de um e mirar o quarto d’outro. Aí você chegou. As coisas melhoraram? Não. Pioraram. Eu percebi que minha relação com o tudo e o nada era muito mais complexa. A partir do momento que apareceu, dei-me conta: o meu tudo simplesmente não existia. Eu não sabia nada, nem tinha visto e muito menos vivido. Eu mascarava dores, fraquezas e mentiras. Só não tinha noção o quão ruim isto era e as conseqüências e traumas que acarretariam.
Algumas heranças negativas, infelizmente, permaneceram. É algo que tento lidar, diariamente. Geralmente consigo, mas sou humano e às vezes fraco, incapaz. Deslizo. E você não sabe o quanto dói. Impossível um chato, teimoso e insistente não ser perfeccionista e ter uma autocrítica extremamente acurada. Não sou exceção. Martirizo-me, pode ter certeza, e como poucos têm o dom de fazer. Sofro quieto, disfarço. Sei que o ar sereno pode aparentar indiferença. Porém, uma vez, alguém muito sábio ensinou-me que quem prega muito o desapego, mais apegado está. Se adaptarmos um pouco o exemplo, é claro como se encaixa em meu caso.
Já deve ter percebido, sou movido por paixão. Para mim, significa quase tudo. E uma como a nossa é rara. Não há combustível melhor. É o que me motiva a continuar, a seguir, a não esmorecer diante das barreiras. É o que me faz acordar todos os dias e agradecer, por tudo, que é você. É minha dádiva, é meu presente. Esperei muito tempo por isso. Achei até que não existia, que era algo como “papai-noel”. Felizmente, você apareceu, com seu ar um tanto quanto universalmente correto, e me provou o contrário.
Ninguém tem manual de instruções, nem garantia. Caso eu tivesse, quem sabe você já teria me levado a manutenção, ao menos por ora. Entretanto, eu voltaria. Chatos, perfeccionistas, teimosos e cabeças duras, como eu, se é que existem outros assim, não desistem fácil. Ou melhor, não desistem. Sou altamente competitivo. Não sei perder e nem quero aprender. Não combina comigo, sem parecer pretensioso. Dentro do “universo”, do “tudo”, pouco sei. Sei que não quero nunca perder esse brilho nos olhos, não sentir saudade mesmo quando está ao meu lado, nem a famosa sensação de “borboletas no estômago”, que pra mim, admito, era a maior bobagem do mundo. Você faz parte, de tudo e do tudo. Mas calma lá, e o nada? Hoje, quando quero remeter ao meu antigo dilema, paro e penso: o que é o nada? É tudo sem você.