Os anões, o Corinthians, a Hebe, os Maias e Hassan



Ah, 2012, que ano mais obscuro. Acho que, em parte, os Maias não estavam errados. Eles previram alguma coisa. Tenho certeza. Não sou supersticioso. Está bem, vou corrigir. Não sou um tipo qualquer de supersticioso. Talvez, eu não acredite em nenhum desses mitos, crenças, causos, contos... Entretanto, o grande problema é que quero acreditar. Apego-me aos mais estranhos, curiosos e engraçados. Esses sim valem à pena.

Lembro-me de quando conheci o mito do “enterro de anão”. Realmente nunca tinha visto, ido a um e nem tido notícia de ninguém que houvesse realizado tal façanha. Fiquei perplexo. Daí pra frente, comecei a desenvolver um trabalho jornalístico investigativo de primeira linha, clippagem das boas, mesmo com a minha base teórica limitada a segunda série do Ensino Fundamental. Desmembrava a “sessão obituário” dos jornais, em busca de um, pelo menos um, anão falecido. Hoje - 17/10/2012 - somo um total de 569 páginas de obituários analisadas. Ainda sem registro de qualquer anão. Mas isso não vem ao caso. É apenas para não pensar que sou estranho sem nenhum tipo de fundamentação. Não é bem isso. E toda essa história é apenas um viés para chegar até o meu atual objeto de curiosidade: “2012”.

Nunca tinha ouvido a profecia Maia sobre 2012. Quando ouvi, fiquei perplexo. Vi filmes, documentários, pesquisei na internet. Decidi então acompanhar este ano de perto. Analisar minuciosamente os acontecimentos em busca de indícios que provem, ou não, que os Maias estavam certos. Admito: também por precaução. O ano começou tranqüilo – mas, de junho para cá, uma sucessão de acontecimentos fizeram com que eu ficasse realmente preocupado. O Corinthians ganhou a Libertadores, instaurou-se uma CPI para analisar escândalos de corrupção dentro do governo, Ronaldo – atualmente fenômeno só com o garfo na mão - está de dieta, a greve dos professores acabou e até a Hebe, ela que era idosa desde 1960 – tadinha - partiu desta pra melhor. Aliás, a morte da Hebe fez com que eu intensificasse o monitoramento. Passei a seguir Oscar Niemayer no twitter. Ele dá, ao menos, um tweet por dia. Chamo de tweet do alívio. A morte de Niemayer e a volta do Adriano, ex-imperador, atual patrão da Vila Cruzeiro, aos gramados, são duas coisas que acompanho. Penso que, caso um dos dois aconteça, um buraco negro será aberto, ou algo do tipo.

Só que, tudo isso, são frivolidades. O que realmente me chamou atenção, deu-me a sensação de fim dos tempos, de “2012”, foi quando abri um site jornalístico e vi a foto de um menino de 9 anos – Hassan – palestino. Ele portava um fuzil, semi-automático, que, se colocado de pé, ao seu lado, provavelmente, o superaria em altura. Fiquei perplexo. Resolvi ler a matéria. O repórter que a produziu perguntou: “Você não deveria estar brincando, ou na escola? Por que está com este fuzil na mão?”.  A criança, prontamente, respondeu: “Estamos em uma guerra santa. É isso que Deus quer. Sou somente um instrumento dele”. Hassan, palestino, quer ser um mártir. Não se importaria de morrer pela causa que luta, pelo contrário, ficaria honrado. Não se importa também em tirar a vida de outro menino, de 9 anos, como ele. E faria isso por este menino ter nascido do outro lado de uma faixa imaginária que separa Israel e Palestina, ou por não pactuar dos mesmos ideais. Não se trata de uma questão religiosa. Trata-se de uma questão humana. Mas Hassan é vítima. Guardadas as proporções, nada muito diferente de qualquer João, Marcelo, Carlos, meninos brasileiros que empunham uma arma, desde pequenos, a serviço do tráfico.

Quem sabe não foi isso que os Maias profetizaram. Profetizaram a história de um Hassan qualquer. Previram que os seres humanos destruiriam a si próprios.  Por jogos de interesses e  pela maldade de quem bitola, torna um semelhante alienado por ideais que sequer são dele, por ideais mascarados de “vontade de Deus”,” guerras santas”, “de guerras contra o terror”, contra o tráfico... Quem sabe não tenham previsto, exatamente, o fim do mundo. E sim nossas atitudes. Atitudes de quem, com ou sem intenção, destrói vidas, sonhos, mundos. Esse, pra mim, é o fim do mundo.

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